“Desde os dezoito anos vivo independente da minha família. Sempre me banquei e fui fazer a própria vida. Estudei, morei com amigos, rachei despesas, aprendi a viver com pouco e a pedir dinheiro emprestado, quando precisava. Até que, tempos depois, formei-me psicóloga e, já estabilizada num emprego, as coisas se normalizaram.Só tem um probleminha: chega uma hora que a gente casa, não é mesmo? E daí, sabe o que aconteceu? Caiu um caminhão de crenças em cima da cabeça.
O filminho da vida entre meu pai e minha mãe passou inteirinho, claro que todo distorcido pela visão que eu tinha daquela convivência. O filme que eu vi e vejo não é o mesmo que meu irmão viu ou vê. Mas o pior é que dessa interpretação carreguei inúmeras marcas que influenciaram, e muito, o meu comportamento depois de casada.Quando casei toda minha liberdade acabou. Não porque meu marido me prendesse, muito pelo contrário. Mas os conceitos que eu tinha sobre o que é ser uma boa esposa, as lembranças que tinha quando criança, a tentativa de ser melhor que minha mãe, fizeram com que eu mudasse meu comportamento e me limitasse. Até aí, tudo bem, acho que é lógico, né? Mas então eu descobri, através do trabalho da Theresa com constelação sistêmica, que não são somente as crenças que carreguei na mente que determinaram minhas atitudes.
Existe algo que está muito além das crenças, da mente e da minha individualidade: é o sistema familiar. E ele exerceu grande influência no meu casamento. A força do sistema familiar. Somente após mergulhar neste universo rico, fabuloso e instigante que a constelação demonstrou, pude entender algumas coisas que até então não pareciam tão claras. Por exemplo: mesmo sabendo que meus impulsos e atitudes são guiados por crenças que tinha dentro de mim, muitas vezes queria mudar de atitude, mas algo me dizia (sem palavras) que eu não podia. Queria sair, passear, fazer meus cursos, meu marido apoiava e até me empurrava para fora. Mas lá no fundinho, algo falava: não pode! Queria ir em ambientes diferentes, ter novas amizades, mas… não pode!Descobri que essa força que empurra a gente a ter atitudes que muitas vezes não estão trazendo conforto são os sistemas familiares.
Theresa me disse que as forças que empurram a gente para coisas confortáveis também fazem parte dos sistemas familiares. Mas o confortável eu não via, e acho que é normal. Só via o que me incomodava.Ela explicou que herdamos de antepassados as características que temos hoje. Se estamos conscientes de que somos menores que nosso sistema, olhamos para dentro de nós, reconhecemos os medos, angústias e cobranças, percebemos que eles não são nossos, essa energia que “atrapalha nossa vida” perde a força, naturalmente. E a vida se torna mais confortável. Mas quando não reconhecemos ou até evitamos olhar para essas mágoas e dores, elas continuam lá, nos pressionando e trazendo incômodo.
Eu, como psicóloga, sei muito bem disso. E mesmo assim, enfrentava muitos problemas, porque não queria olhar para dentro de mim. Fingia que estava tudo bem. Mas doía muito lá dentro. O sistema não quer nosso mal nem nosso bem. O sistema quer somente o equilíbrio entre seus membros e isso significa inclusive reconhecer cargas emocionais do passado, até de pessoas com quem não tivemos contato. O sistema transmite essas características de geração a geração, até que alguém reconheça o fato, se equilibre, e assim essa carga emocional não traz mais desconforto. Uma coisa muito bonita que ouvi de Theresa, ficou na minha cabeça: o sistema é como o sol. Sob um sol escaldante, poderemos nos queimar e ficar desidratados. Porém, o sol não tem nada a ver com isso. Ele somente é… o sol. Nós é que temos que reconhecer que o calor está incomodando e tomar providências. Transformar o sol em aliado.
Depois de algum tempo, percebi que esse “sol”, quer dizer, os sistemas, não estavam fazendo bem para mim. Há pessoas que dizem que tem gente que cresce por amor ou pela dor. Eu entendi que todo o crescimento é amor. Os sistemas, ao mostrarem as dores, mostram por amor e estão dizendo “cresça, viva bem, seja feliz!”. Eu aceitei esse sussurro e busquei corajosamente saber quem eu era. E descobri que, ao perceber e aceitar quem eu era, muito além dos meus pensamentos e emoções, abraçando todo o meu passado conhecido e desconhecido, comecei imediatamente a olhar com outros olhos o meu marido.
Não fiz nada, simplesmente aceitei, após participar de uma constelação familiar sistêmica. Aceitei com todo o corpo, porque a cabeça não consegue penetrar muito bem nos conhecimentos que a constelação traz. E nem precisa. O coração se preenche de ternura, reconhecimento e a dor e mágoa escorrem junto com as lágrimas que desabrocham com a compreensão. Nossa, como chorei!Estava livre para amar o meu marido, como nunca estive. E a mudança começou sem eu mesma fazer nada para isso. De repente, comecei a sentir as mãos dele pousando no meu braço, nos meus ombros, de forma carinhosa, com ternura. Ele nunca fazia isso, nem gostava de toques. Passaram-se semanas, talvez mês, mês e meio, e ele começou a dizer que eu estava mudada, mais centrada. Começou a elogiar o meu trabalho, coisa que nunca tinha feito. A paixão, depois de 15 anos de casamento foi retornando, mas não daquele jeito do começo, tão louco e sem responsabilidade. Foi uma paixão suave, gostosa, de cumplicidade e troca.
Uma coisa fundamental depois da constelação, foi que percebi que antes eu queria que ele me fizesse feliz. E, de alguma forma, exigia isso. Mas ele não podia me fazer feliz. Só eu podia. Quando assumi ser feliz com meu próprio esforço, acho que tirei um peso dele, mesmo sem falar nada. E parece que o sistema reage na hora: ele mudou. Que bom! Sinto-me como que começando um novo casamento.”
Depoimento de Larissa B.