O método da constelação familiar torna visível como os seres humanos estão ligados em sistemas de vinculação e emocionalmente dependentes uns dos outros de muitas formas. Mostra o caminho que sobretudo os sentimentos e pensamentos difíceis tomam no interior de um sistema pluri-geracional. Distingo os conceitos de relação e de vínculo. Há relações em que não existem vínculos emocionais verdadeiros (p. ex. quando um homem e uma mulher vivem juntos sem terem sentimentos um pelo outro) e noutras há vínculos apesar de não existir nenhuma relação real (p. ex. quando alguém tem uma forte ligação a um parceiro anterior, talvez até já falecido). Vínculos fortes e em parte indissolúveis são criados sobretudo pela descendência biológica (nomeadamente os vínculos mãe- filho, pai- filho e entre irmãos) e pela sexualidade (vínculo entre parceiros). Os vínculos são caracterizados por sentimentos fortes como amor, medo, raiva, orgulho, vergonha ou culpa. Os vínculos estabelecem-se, regra geral, sem um esforço consciente das pessoas em questão. Acontecem. Uma vez estabelecidos oferecem resistência à sua dissolução. A possível perda de um vínculo provoca medo. Os vínculos estão protegidos contra a sua dissolução arbitrária pelo facto de a separação criar uma dor forte. A dimensão da dor provocada pelo soltar do vínculo é um sinal da força desse mesmo vínculo.
É através dos vínculos que se estabelecem as estruturas básicas trans-geracionais da convivência humana. Sem vínculos não haveria grupos humanos maiores. Provavelmente não haveria o que chamamos fraternidade. Podemos constatar também em animais formas de comportamento e de vida baseados em vínculos. Para realçar a qualidade específica da ligação entre seres humanos escolhi a noção vínculo de alma. O conceito de alma tem grande importância na história cultural e filosófica humana. A alma, em todas as religiões e filosofias tem a função de colocar questões sobre a origem da vida, da existência específica do ser humano no mundo e daquilo que resta de uma pessoa depois da sua morte biológica.
Defino a alma como aquela força que liga o que pertence a um grupo de seres e o delimita de outro. Uma alma comum inclui assim, conjuntos de seres humanos e delimita-os. Cria o sentimento de pertença. Cada pessoa participa na alma comum do seu grupo com os seus sentimentos. Assim a alma é parte de cada elemento do grupo mas também é um fenómeno sobre- individual. O relacionamento de cada elemento com o respectivo grupo influencia os seus membros na sua percepção, sentir, pensar, imaginar e lembrar. A alma significa, neste sentido, também partilhar sentimentos. Sobretudo as crianças absorvem na sua própria psique os sentimentos dos pais.
Segundo Hellinger o sentimento e a necessidade de pertença são, por seu lado, a base da consciência (Hellinger, 2002, p. 210 seg.). A consciência orienta comportamentos elementares na base dos sentimentos de culpa e inocência. Favorece assim, a troca entre membros de um conjunto de pessoas e regula o dar e o receber e também o respeito por certas ordens básicas em grupos. É grande mérito de Hellinger ter percebido e formulado tão claramente a relação entre vínculo e consciência e de chegar, assim, à compreensão profunda de culpa e inocência. Pela relação no grupo estabelece-se uma compreensão de bem e de mal, de certo e de errado. A verdade e a moral são, nas suas formas originais, relacionadas com o grupo e, portanto, relativas. O que num grupo é considerado bom e correcto pode ser considerado mau e errado noutro. Devido à sua pertença a grupos os seres humanos pensam naturalmente em termos ideológicos e consideram-se em geral melhores que os elementos de um outro grupo. Quem faz parte de um grupo tem direito a uma proteção especial no seu seio. Não pode ser excluído. Por causa da importância desse vínculo na sua vida e na sua sobrevivência, a exclusão de uma pessoa pelo seu grupo tem uma qualidade traumática. Como os vínculos não se dissolvem automaticamente pela morte e como todos nós tememos a exclusão do grupo continuamos a dar aos mortos, por muito tempo, um lugar na alma do grupo. Em quase todas as culturas as pessoas passam muito tempo a lembrar os seus mortos.
Franz Ruppert