É definido como um desenho gráfico da vida em família, é um instrumento de avaliação e intervenção que proporciona uma aproximação com o tecido de transmissão familiar tramado de geração em geração. O genograma, inserido na conversação terapêutica, transcende suas origens funcionalistas, para transformar-se num recurso de compreensão colaborativa. Então, o recurso do genograma permite a coo-exploração, clarificação e expansão dos significados que emergem das histórias que as famílias contam e que afetam a dinâmica do relacionamento familiar.
O genograma tem sido descrito como um instrumento de avaliação e intervenção que proporciona uma aproximação com o “tecido de transmissão familiar”, ou seja, com as heranças simbólicas recebidas e transformadas pelas novas famílias, que vão sendo levadas de geração em geração. As histórias contadas, através do genograma, integram o patrimônio relacional das famílias. Assim, o trabalho com o genograma possibilita a criação de um espaço propício à transformação das histórias familiares. Na concepção de White e Epson (1990), os acontecimentos são pontuais na vida das pessoas, ou seja, limitados a um contexto, tempo e espaço específicos. No entanto, os significados atribuídos a estes acontecimentos são duradouros, permanecem na história das famílias. As pessoas conferem maior ou menor relevância aos significados atribuídos às experiências vividas, conforme a coerência que estes assumem nas narrativas atuais. Desta forma, agregam à sua história aqueles elementos da experiência que fazem sentido à “história oficial”, que está construída com base nos diversos discursos que circulam em nosso contexto cultural. Assim, as histórias que contam de si mesmos estão estruturadas também por conceitos culturais, ou seja, pelos sistemas sociais nos quais estão inseridos.
Pode-se considerar, então, que a função limitadora dos sistemas sociais, por um lado, contribui para o senso de continuidade dos indivíduos e comunidades, através do reconhecimento do familiar, do sentimento de pertencer, de fazer parte. Por outro, em função de não conseguir dar conta de significar todas as contingências que aparecem na vida das pessoas, propicia o aparecimento de lacunas e inconsistências que geram as contradições, através das quais os sujeitos inventam e reinventam a suas histórias, atualizando, também, as histórias que suportam a existência dos sistemas sociais dos quais estes sujeitos participam.
Igualmente, os sistemas familiares elegem algumas histórias e abandonam outras para construir o contexto histórico intrínseco da família através das gerações. Uma vez que a história da família esteja configurada em torno de um problema, ao selecionar partes da experiência que tenham sentido nesta narração, as pessoas vão incrementando a narrativa que mantém o significado problemático. Neste processo, as famílias tendem a confundir a sua própria história com a história de seus problemas, de forma que, com o passar do tempo, não conseguem mais discriminar uma da outra. A possibilidade de uma história que foi abandonada emergir das experiências vividas reside na ocorrência de um incidente que possa produzir um acontecimento extraordinário, que constitua uma oportunidade para colocar dúvidas, para desestabilizar o relato que a família conta e que a define. Acessar estas histórias que, com o passar do tempo, foram marginalizadas nas narrativas familiares, constitui um caminho para a elaboração de histórias alternativas que possam fazer sentido na experiência vivida pelas pessoas.