Bert Hellinger, psicoterapeuta Alemão e criador da psicoterapia sistêmica denominada Constelação Familiar, fala sobre a diferenciação dos sentimentos em seu livro, o reconhecimento das ordens do amor, em uma conversa com a jornalista que publicou o livro juntamente com ele, Gabriela Ten Hövel. Hellinger diz que diferencia os sentimentos primários dos secundários. Afirma que os sentimentos secundários servem como substitutos dos primários. É a emoção primária, segundo o autor que leva a ação. A secundária serve como um substituto a ação. Trabalhar os sentimentos secundários apenas reforçaria a recusa a agir.
A inveja
Inveja significa querer ter algo sem querer pagar o seu preço. Em vez de o terapeuta trabalhar com a inveja no paciente, seria mais prudente conduzir o cliente a um ponto em que ele mesmo pudesse decidir se está mesmo disposto a pagar o preço total pelas vantagens e pelo sucesso.
A raiva
A mesma coisa que acontece na inveja, se dá com a raiva. A raiva primária surge quando somos atacados. Esta raiva dá forças para que o indivíduo se defenda e por isso ela é boa. Ela leva a pessoa a agir. Porém, a raiva mais intensa é fruto das nossas fantasias. Fica-se com raiva, mas não se age. Hellinger nos dá um exemplo para elucidar este caso: Pude observar isso em mim mesmo quando trabalho, diz Hellinger. Se eu ficar zangado com as pessoas, numa constelação,e começar a me perguntar:O que há de errado com estas pessoas? Por que estão contra mim? Sei imediatamente que estas suposições são fantasiosas. Porque todas as vezes que eu investiguei a verdadeira causa era diferente daquela que eu tinha imaginado. Essa espécie de raiva não se baseia em informações. Baseia-se em projeções e suspeitas. Segundo o autor a raiva também tem a ver com um direito que a pessoa não reivindica. Se não reivindicamos um direito que nos pertence, ficamos com raiva. Esta raiva serve para nos paralisar. Nada mais é que um substituto para a própria ação. Estes sentimentos são apenas uma força aparente. Os sentimentos decisivos são a dor e o amor. Em vez de encarar a dor, talvez a pessoa fique com raiva. Numa sessão, o paciente lembra que apanhava do pai e fica com raiva. Ele fica com raiva para não sentir a dor. Se sente raiva, não pode sentir dor. Mas se ele disser: Isso realmente me magoou ele passará a outro nível muito mais introspectivo e forte. Penetrará mais fundo do que se ele disser: Você vai me pagar!
O ódio
Vários sentimentos são somente’ o reverso do amor e da dor. O ódio é somente a outra face do amor. Ele brota quando alguém é ferido em seu amor. Se uma pessoa expressa o ódio ela bloqueia o seu acesso ao amor. Mas se ela disser: Eu te amei muito e isso me machuca demais, então não existirá mais espaço para o ódio. Com o ódio a pessoa perde aquilo que ela realmente deseja.
O medo
O oposto do amor é a indiferença. Quando um casal vai para a terapia e diz que não podem mais viver juntos é só observar se há algum tipo de envolvimento. Se sofrem muito, existe ainda envolvimento e as chances para a reconciliação são boas. Se já não há dor, o relacionamento está terminado e predomina a indiferença. O medo é um sentimento que se prende a algo. Se retiramos tudo aquilo no qual o medo pode se fixar, ele cresce.É mais nobre encarar diretamente as situações que provocam o medo. Se numa família falecesse o avô, seria prudente pegar a criança pela mão e dizer a ela: Veja a mão do vovô agora esta fria. Vamos enterrá-lo. Mas você poderá se lembrar sempre dele. Assim a criança pode olhar para o morto sem medo.
A depressão
Os pacientes depressivos na visão de Hellinger não ficam doentes porque reprimem a raiva, mas porque reprimem a ação que levaria a solução. Só o fato de expressar raiva não liberta ninguém. A pessoa deprimida é aquela que não tomou um dos pais. Muitos se castigam por não tomarem os pais como são simplesmente fracassando em suas profissões, perdendo seus parceiros ou muito dinheiro. A depressão pode ser o vazio dos pais. A base do desenvolvimento saudável é reverenciar os pais, respeitar aquilo que eles significam e tocar a vida para sempre. Não importa como são os pais. Aquele que ousa desprezar os pais irá repetir em sua própria vida o que ele despreza. Pois é exatamente através do desprezo que ele se torna igual aos pais. Quanto mais uma pessoa rejeita os pais, mais irá imitá-los. Essa rejeição também acabará refletindo em outras áreas da vida do filho. Fazer exigências é uma forma particular de rejeitar os pais. Quando um filho quer impor aos pais a maneira como eles dever ser e agir com os filhos, impedem a si mesmo de tomar da vida o que é essencial. Olhar para os pais e dizer: Eu sou o filho certo para você e vocês são os pais certos para mim e eu os liberto de toda a expectativa pode ser um grande caminho para a cura.
Trechos retirados do livro O reconhecimento das ordens do amor de Bert Hellinger e Gabriela Ten Hövel pag 88 a 93.