A Constelação Sistêmica Familiar é uma abordagem fenomenológica terapêutica fundamentada nas descobertas do pensador alemão Bert Hellinger. A constelação familiar se baseia no uso de representantes neutros para representar membros da família ou grupo social do cliente e trabalhar um tema específico trazido por este último. O tema pode envolver seu relacionamento de casal, suas relações familiares, comportamentos persistentes e repetitivos, seu emprego e meio profissional, um destino familiar recorrente e, algumas vezes um quadro patológico, uma doença física ou psíquica que marca seu corpo ou o percurso do histórico familiar. No olhar da terapia familiar sistêmica, trata-se de averiguar se, no sistema familiar ampliado existe alguém que esteja emaranhado nos destinos, escolhas, crenças, de membros anteriores desta família. Trazendo-se a luz estes emaranhamentos, a pessoa consegue se libertar mais facilmente deles – ela passa a ter consciência do que age no seu sistema e a ter a opção da escolha sobre seu próprio destino. O mesmo ocorre em uma doença grave, que pode em alguns casos representar simbolicamente algo não solucionado no histórico familiar, e que se manifesta em um ou mais de seus membros em determinada geração ou seguindo o destino semelhante por algumas gerações.
Existe uma conexão entre doenças graves e emaranhamentos nos destinos de membros da família. Às vezes, por meio de uma doença manifesta-se algo que o doente não quer reconhecer, por exemplo, uma pessoa, uma culpa, um limite, seu corpo, sua alma, uma tarefa ou um caminho que deva seguir. A doença obriga a mudança. Por isto, o facilitador em um workshop de Constelações Familiares alia-se, ao motivo e ao objetivo da doença, por exemplo, com a pessoa excluída, com a culpa refutada, com o corpo desprezado, com a alma abandonada, com a misericórdia e a chance que se revelam na doença. Quando isto é colocado em ordem, o doente pode viver melhor. E ele também pode morrer melhor, quando chegar à hora. Há uma dinâmica silenciosa e sutil atuando sobre todo sistema familiar, em sua história, em seus acontecimentos, em sua cultura e linguagem própria. Tal dinâmica atua sobre todo e qualquer sistema, e segue leis próprias as quais Bert Hellinger observou em seu trabalho empírico fenomenológico. Na constelação familiar, se olha para este sistema e para a posição e postura de cada membro e como tais interagem sobre e entre si – buscando, por meio de gestos, reposicionamentos e falas, alcançar a leveza e ordem, perdida no sistema.
Quando se pode criar uma ordem na mesma, que traga leveza e reconciliação, partindo da alma, isto também tem um efeito atenuante ou favorável e freqüentemente até curativo sobre a doença. Isto, entretanto em ação conjunta com muitas outras medidas, principalmente aquelas da medicina e de outras terapêuticas. A Constelação Familiar deve ser procurada como uma abordagem complementar, nunca como alternativa única, principalmente em se tratando de doenças. Freqüentemente diz-se a um doente que a sua enfermidade é de origem psicológica. Isto é freqüentemente vivenciado pelo paciente como uma depreciação, pois este pensa: “se eu fosse diferente, seria tudo melhor”. Mas não e assim, porque os emaranhamentos que agem por trás disto são inconscientes. O impulso por meio do qual alguém talvez se comporte de maneira destrutiva, se auto sabotando, é totalmente inconsciente. Somente quando o emaranhamento que age em segundo plano vem à luz, pode-se mudar alguma coisa. Na Constelação Familiar o cliente tem a possibilidade de vivenciar e ver a cena familiar, os posicionamentos e vínculos estabelecidos entre os membros e temas de seu próprio sistema. Em doentes com câncer, por exemplo, trata-se freqüentemente de que se exponha a gravidade da situação. A gravidade é, naturalmente, de que se trata de uma doença mortal e que se tem que encarar a morte. Além disto, há todo o envolvimento e dinâmica próprio, da estrutura familiar. A doença nunca age apenas sobre o doente, ela age sobre o doente e seu sistema familiar.
Na maioria das vezes, as doenças são vistas como algo mau do qual queremos nos livrar. Mas, ao mesmo tempo, doenças também são processos de cura, principalmente para alma. Não se pode simplesmente colocá-las de lado – exatamente algo que foi deixado anteriormente de lado está se manifestando agora na forma de uma doença. “Pode-se ver que quando se admite que uma doença possa servir a uma causa, talvez mais elevada, então ela pode retirar-se. Ela cumpriu o seu dever. Mas deve ficar presente, não pode ser jogada fora. Só assim então, às vezes, ela se retira” Bert Hellinger (2006).
René Schubert é psicoterapeuta e facilitador em Constelações Familiares
(formado no Brasil e Alemanha, membro da Hellinger Sciencia).