1. O AMOR QUE SABE
A idéia de que devem e podem assumir algo pelos pais ou ancestrais faz parte do pano de fundo que causa dificuldades aos filhos. Isso leva a problemasintermináveis para eles. E de certa forma também para os pais. Para entendermos isso é necessário que saibamos algo sobre a diferença entre as diversas consciências.
2. A BOA E A MÁ CONSCIÊNCIA
Nós sentimos a nossa consciência como boa e má consciência, como inocência e culpa. Muitos pensam que isso teria a ver com o bom e o mau. Contudo, não é assim. Isso tem a ver com o vínculo à família e com a separação dela. Cada um de nós sabe, intuitivamente, com a ajuda de sua consciência, o que deve fazer para fazer parte dela. Uma criança sabe, intuitivamente, o que deve fazer para pertencer à família. Caso se comportar de maneira correspondente ela tem uma boa consciência. Uma boa consciência significa então: eu sinto que tenho o direito de pertencer. Se uma criança se desvia disso ou se nós nos desviamos disso, temos medo de perder o pertencimento. Sentimos esse medo como uma má consciência. Uma má consciência significa, portanto: tenho medo de ter colocado em jogo o meu direito de pertencer.
Sentimos a boa e a má consciência de formas diferentes em diferentes grupos. Até as sentimos de forma diferente, conforme cada pessoa. Por isso temos, por exemplo, em relação ao pai uma consciência diferente da que temos em relação à mãe e na profissão uma outra consciência diferente da que temos em casa. Portanto, a consciência muda continuamente porque temos de grupo a grupo e de pessoa a pessoa uma outra percepção, pois de grupo a grupo e de pessoa a pessoa o que devemos fazer ou deixar de fazer é algo diferente, para podermos pertencer. Com a ajuda da consciência também diferenciamos aqueles que nos pertencem daqueles que não nos pertencem. Na medida em que a consciência nos vincula à nossa família, ela nos separa de outros grupos ou pessoas e exige de nós que nos separemos deles. Por isso, devido à nossa consciência temos freqüentemente sentimentos de rejeição e até de inimizade em relação a outras pessoas e a outros grupos. Essa rejeição tem a ver com a necessidade do pertencimento e tem pouco ou quase nada a ver com o bom e o mau. Portanto, essa consciência é uma consciência que sentimos. Com a ajuda dessa consciência, diferenciamos entre o bom e o mau, mas sempre apenas em relação a um determinado grupo.
3. O EMARANHAMENTO
Contudo, existe ainda uma outra consciência oculta, uma consciência arcaica, uma consciência coletiva. Essa consciência segue outras leis diferentes daquelas ditadas pela consciência que sentimos. É a consciência do grupo. Essa consciência vela para que numa família todos se submetam a determinadas ordens que são importantes para a sua sobrevivência e união. Em primeiro lugar, o que faz parte dessas ordens, é que cada um que pertence tem o mesmo direito de pertencer. Contudo, sob a influência da consciência que sentimos, algumas vezes excluímos algumas pessoas da família. Por exemplo, aqueles que pensamos que são maus, também aqueles dos quais temos medo. Nós os excluímos porque pensamos que sejam perigosos para nós. Contudo, através dessa outra consciência oculta, aquilo que fazemos de boa consciência, seguindo a consciência que sentimos, será condenado. Pois esta outra consciência não tolera que alguém seja excluído. Entretanto, se isso acontecer, alguém será posteriormente condenado, sob a influência dessa consciência oculta, a imitar e representar um excluído em sua vida, sem que tenha consciência disso. Denomino essa ligação inconsciente com uma pessoa excluída de “emaranhamento”. Por isso, podemos entender que muitos filhos, os quais pensamos que estão se comportando de forma estranha ou estariam em perigo de se suicidar, ou se tornam drogaditos ou não importa o que seja, estão conectados com uma pessoa excluída. Estão emaranhados com essa pessoa. Por isso só podemos ajudá-los se eles e outras pessoas na família tiverem em seu campo de visão essa pessoa excluída, colocando-a novamente na família e no próprio coração. Depois disso, os filhos estarão liberados do emaranhamento. Para ajudar esse tipo de filhos, outros membros familiares que até então ignoraram essas pessoas precisam finalmente olhar para elas. E aqueles com os quais estavam zangadas ou rejeitaram precisam se dedicar a elas com amor e acolhê-las novamente na família. Esse é o pano de fundo para muitas dificuldades que as crianças têm, e também a preocupação que algumas vezes seus pais têm por elas.
4. O AMOR CEGO
Contudo, existe para essa consciência oculta ainda uma outra lei. Essa lei também traz dificuldades às crianças. Essa lei exige que aqueles que pertenceram antes à família, tenham precedência em relação àqueles que vieram mais tarde. Portanto, existe entre os membros anteriores e os posteriores uma hierarquia. Essa hierarquia precisa ser obedecida. Contudo, muitas crianças tomam a liberdade de assumir algo pelos pais para ajudá-los. Com isso transgridem a hierarquia. Então a criança diz para a mãe ou pra o pai, sob a influência dessa consciência, frases internas, tais como: ”Eu assumo isso por você.” “Eu expio por você.” “Vou adoecer em seu lugar.” “Vou morrer em seu lugar.” Tudo isso acontece por amor, mas por um amor cego. Esse amor cego leva às drogas ou ao perigo de vida e comportamentos agressivos. Entretanto, estes tipos de comportamento e esses perigos têm a ver com a tentativa de assumir algo pelos pais. Essa ordem é violada e ferida dessa forma.
5. A ORDEM
Quando ficamos sabendo dessa ordem, podemos restabelecê-la novamente. Isso significa, por exemplo: os pais assumem as conseqüências de seu próprio comportamento, de seu próprio emaranhamento e os carregam sozinhos. Então a criança estará livre. Ela não precisa assumir nada daquilo que é da alçada dos outros. Contudo, a transgressão da ordem de origem é castigada duramente por essa consciência oculta. Toda criança que tenta assumir algo pelos pais ou por outros que vieram antes dela, fracassa. Nenhuma tentativa de assumir algo pelos pais tem sucesso. Está sempre fadada ao fracasso e, na verdade, para todos os envolvidos. Nós precisamos saber disso. Por isso, ajudamos as crianças a se soltarem dessa intromissão. Ao invés de olhar para as crianças, olhamos primeiro para os pais e deixamos que eles mesmos resolvam os problemas. Se os pais resolverem isso, os filhos se sentem livres. Eles ficam novamente tranquilos e se sentem acolhidos. Portanto, estas são duas leis básicas que devemos ter no nosso campo de visão e estar em acordo interno quando se quer ajudar crianças difíceis.