As constelações familiares se referem de uma nova maneira àquilo que chamamos de “alma”. Podemos denominar assim a força invisível que animando (ou pelo menos no mundo animado; congrega partes num todo de uma tal maneira que o todo é mais do que a soma das partes e de suas funções dentro dele. A alma não se identifica com nossa consciência, pois inclui o inconsciente. E não se identifica com os processos fisiológicos e físicos em nosso corpo e em nosso cérebro, embora esteja inseparavelmente unida a eles. Não se identifica tampouco com nossos sentimentos, embora o sentir seja o modo de expressão por onde se experimenta a alma. Ela é antes como o espaço ou o campo que une, ultrapassando espaço e tempo, tudo o que constitui uma pessoa, criando uma identidade. A abordagem típica da ciência natural atual, que busca o que “não difere”, a saber, as partes e partículas e suas mútuas conexões, exclui por seu próprio método a possibilidade de descobrir uma alma. Porém nossa experiência quotidiana se dirige ao que é “mais do que”. Não há conversa, nem arte, nem política, nem vida de relacionamento sem participação da alma. Como a experiência psíquica não pode ser reduzida ao que material e quantificável, a língua desenvolveu “palavras da alma” como liberdade, paciência, espírito, coragem, amor, etc. O que entendemos por “amor” não pode ser adequadamente entendido a partir de genes ou de funções do cérebro. Sabemos que para falar dos domínios da alma dependemos de imagens, metáforas, imprecisões, vivências, experiências, intuições perceptivas, bem como da função anímica da avaliação sensitiva e de coisas semelhantes. Por mais que as ciências da natureza nos ajudem com seus conhecimentos e nos obriguem, por exemplo, a repensar nossa liberdade de decisão, a ocupação com a alma, que ultrapassa o âmbito da experiência da vida, pertence mais às ciências do espírito ou à psicologia como ciência do espírito. O trabalho com as constelações familiares se apresenta no concerto da teoria e da prática psicológica modernas de um modo amplo e desafiador, descortinando a alma redescoberta e suas leis.
Constelação Familiar e o Campo Morfogenético
No caso da constelação familiar, o grupo de pessoas que a integra forma um sistema devido à interação entre cada pessoa e o resto do grupo, e entre o resto do grupo e cada pessoa. Dentro de um sistema, cada parte influencia o todo e o todo influencia cada parte. Essa vinculação é a característica do sistema. O conceito de sistema se aplica perfeitamente no campo macro-cósmico. A conceituação de uma explosão inicial que originou o Universo de hoje, no qual tudo que existe está entrelaçado em um relacionamento sistêmico. Segundo os cosmólogos atuais, a expansão do Universo poderá continuar indefinidamente se a densidade das massas forem baixas. Mas, se a energia gravitacional for de um nível intenso, a expansão parará até chegar num “big crunch”, que será o início da terrível concentração de massa que termina com um novo Big Bang. Nas constelações siderais, cada estrela é um vórtice de energia que faz parte de um sistema energético, que abrange todas as estrelas da constelação sideral. Voltando à constelação familiar, a pessoa que coordena o processo solicita que cada um se deixe levar pelos seus sentimentos e faça aquilo que achar adequado. Depois desse momento, cada um dos representantes pode expressar sentimentos, às vezes de muita intensidade e que sabe estar relacionados com o problema que está sendo focalizado. Muitas vezes, os representantes falam ou tomam expressões emocionais que eles sabem que não são deles mesmos. Muitas vezes surgem falas que são de pessoas já falecidas. Tendo assistido por várias vezes a processos de constelação, eu me perguntei como pode acontecer que num processo aqui e agora participem pessoas já falecidas. A resposta que surgiu é que, no processo de constelação entram energias virtuais (por serem muito sutis) que determinam os efeitos e emoções e falas alheias ao representante. Essas energias virtuais são consideradas por Rupert Sheldrake como Campos Morfogenéticos.
Eu posso dizer que Campo Morfogenético, na biologia, é constituído por uma energia que age para dar forma a um ser vivo dentro de um processo de evolução, num espaço de tempo determinado. Pondo o conceito nas palavras de Sheldrake, “Os campos morfogenéticos são ‘estruturas de probabilidade’, nas quais as influências dos tipos passados mais comuns se combinam para aumentar a probabilidade de repetição destes tipos” Mais à frente, no seu livro “A Presença do Passado”, Sheldrake afirma que “Os campos morfogenéticos de qualquer organismo vivo particular, digamos, de um girassol, são moldados pelas influências das gerações precedentes de girassóis. A ressonância mórfica não permite, contudo, explicar como é que aparecem os primeiros campos deste tipo.Dentro do âmbito da evolução biológica, os campos de girassóis estão ligados, de maneira estreita, aos campos de outras espécies aparentadas, tais como as alcachofras de Jerusalém descendem, sem dúvida, dos campos de uma longa linhagem de espécies ancestrais. Mas a hipótese da causalidade formativa não permite responder à questão de saber como é que os campos do gênero girassol, ou da família compositae, de que é membro, ou das primeiras células, surgiram. E uma questão de origem, de criatividade. ” Outro conceito importante para Sheldrake é o da ressonância morfogenética. A ressonância em música é o melhor exemplo que eu conheço para verbalizar esse fenômeno. Quando temos um instrumento musical, por exemplo, um violão, e se pulsa uma corda afinada em uma determinada nota, outra corda do violão afinada na mesma nota vai entrar em vibração sem ser pulsada.
De acordo com Sheldrake, a ressonância mórfica implica uma espécie de ação à distância no espaço e no tempo. No campo morfogenético o passado influi no presente. Os ancestrais influem na geração atual por um efeito de ressonância. O ancestral influi na geração atual porque há semelhança entre as duas gerações. No caso de pessoas entre o ancestral e a geração atual podemos observar a repetição de comportamentos do ancestral do passado. Poderíamos dizer: a história se repete. A afirmação de Rupert de que os ancestrais influenciam comportamentos semelhantes aos deles em outras gerações posteriores, é uma afirmação plausível que explica comportamentos de tataravós que aparecem em tataranetos, e isso pode ser presenciado em muitos processos de constelações.”A ressonância mórfica dos padrões de atividade de organismos passados semelhantes e a auto-ressonância de um organismo podem ser percebidos como aspectos semelhantes do mesmo processo. Ambas implicam relações causais formativas através do espaço e do tempo. A auto- ressonância estabiliza, pela sua alta especificidade, o padrão de atividade característico de um organismo, ao passo que a semelhança com organismos passados semelhantes estabiliza a estrutura de probabilidade geral do campo.” Para Sheldrake, a forma dos seres vivos é função dos campos morfogenéticos e da ressonância mórfica, mas ele não se limita ao aspecto físico dos seres vivos, ele também considera que os comportamentos também são função da ancestralidade. Nas palavras de Sheldrake:”(…) A forma e o comportamento dos organismos não são, simplesmente, os produtos de interações mecânicas no seio do organismo, ou entre o organismo e o seu ambiente imediato; dependem, também, dos campos com os quais o organismo está sintonizado. ” Além do conceito da biologia, da física, Sheldrake examina também conceitos psicológicos.”A noção de hábito também foi explorada na biologia. Os organismos vivos parecem conter uma espécie de memória. O desenvolvimento dos embriões presentes não passa, de fato, de uma repetição do dos seus antepassados.
Os animais possuem instintos que parecem encarnar experiências ancestrais. Todos os animais são, por outro lado, capazes de aprendizagem; desenvolvem hábitos que lhe são próprios. Samuel Butler demonstrou esta questão com uma clareza admirável, há cerca de cem anos. A memória, conclui, em Life and Habit, é a característica fundamental da vida: ‘A vida é essa propriedade da matéria que lhe permite lembrar- se – a matéria capaz de se lembrar está viva. A matéria incapaz de se lembrar, está morta. ‘ Dois anos mais tarde, em Unconsious Memory , foi mais longe: ‘não consigo imaginar uma matéria totalmente desprovida de memória, uma matéria que não esteja viva face ao que consegue recordar…não vejo como uma ação, seja ela qual for, seria concebível sem supor que cada átomo conserva a lembrança de determinados antecedentes’. Durante o desenvolvimento, os embriões passam por fases que lembram as formas embrionárias de tipos ancestrais distantes; o desenvolvimento de um organismo individual parece, de uma certa maneira, ligado ao conjunto do processo evolutivo que lhe deu origem. Os embriões humanos, por exemplo, passam por uma fase tipo peixe, com fendas branquiais. Butler via nisto uma manifestação da memória que o organismo tem da sua historia anterior. ‘O pequeno óvulo, sem lembrança potencial de tudo o que aconteceu a cada um dos seus antepassados. “
As hipóteses de Rupert Sheldrake que pudemos apresentar neste artigo constituem uma lição avançada que produz uma reviravolta nas posições dos cientistas da biologia, da psicologia e da física. São hipóteses altamente criativas e que seduzem pela possibilidade de explicar, cientificamente, fenômenos que até agora se configuravam como parapsicologia. Terminada a exposição dos aspectos mais importantes das postulações de Rupert Sheldrake, podemos afirmar que o Campo Morfogenético se constitui na mais recente postulação psicossomática que eu conheço. Quando Sheldrake afirma que a energia do Campo Morfogenético age de ancestrais até os mais novos representantes de uma família biológica e que pela ressonância morfonegética, essa energia reforça as modificações físicas e psicológicas dos seres humanos, podemos entender o que acontece com crianças de dois, três, quatro anos, que demonstram uma habilidade verbal e motora muito mais diferenciada do que os pais quando tinham essa idade. A facilidade com que nossas crianças, de hoje, dominam brinquedos eletrônicos e até computadores e a utilização de uma linguagem muito diferenciada, no que se refere a domínio dos significados das palavras e dos sentidos de frases. Essa facilidade pode ser atribuída à existência do campo morfogenético e à respectiva ressonância. É conhecida a imagem da Gestalt constituída por um vaso e dois perfis. Vamos supor que os perfis fossem psquismo e o vaso seja o corpo, o soma, há pessoas que vêem só os perfis e outras que vêem só o vaso. Levando a analogia para o campo morfogenético, ele agiria simultaneamente sobre o vaso e os perfis e se alguém pudesse enxergar a figura dessa maneira, veria, de forma psicossomática, o ser humano, ou seja, psique e corpo, uma unidade indissociável.
Referências Bibliográficas:¦ Sheldrake, Rupert. “A Ressonância Mórfíca e a Presença do Passado – Os hábitos da Natureza”. São Paulo, Crença e Razão, 1988.¦ Boccalandro, Efraim Rojas. “Teste Projetivo Sonoro Infantil”. (No prelo).¦ Hall, Manly P. “The Secret Teachings of All Ages: An Encyclopedic Outline of Masonic, Hermetic, Qabbalistic and Rosicrucian Symbolical Philosophy” Chapter LXXXI: The Pythagorean Theory of Music and Color. Los Angeles, The Philosofical Research Society, 1975. 6 Butler, Samuel aput Sheldrake, Hupert. Pg.37.
Efraim R. Bocallandro e Irene Cardotti Bocalandro
http://www.consteladoressistemicos.com/