

Ao conceber a teoria das Constelações Familiares, Bert Hellinger fala de três princípios fundamentais presentes no sistema familiar, as chamadas Ordens do Amor que são: pertença, Ordem e Equilíbrio. A cura pessoal e sistêmica ocorre com a restauração de uma situação ideal, em que as leis de pertença, ordem e equilíbrio são respeitadas. O trabalho das Constelações Familiares torna possível tomar consciência de quais membros da nossa família foram excluídos e reintegrá-los. Para entender quem é grande (dá) e quem é pequeno (recebe) com o objetivo de colocar cada membro novamente no seu lugar e em seu legítimo papel.
Parece muito simples, mas na realidade não é assim: todas as mudanças feitas nessas leis ao longo do tempo se estabeleceram profundamente no sistema familiar, e até mesmo reconhecer que “há algo errado” em sua família é o primeiro passo e se torna muito difícil e doloroso. Para dar o próximo passo, isto é para corrigir as coisas, toca profundamente a pessoa que assume essa responsabilidade, porque vai destruir estruturas solidificadas e certezas bem reforçadas, indo tocar numa dor profunda e às vezes esquecida, a ferida primária e a criança interior. Tudo isso gera sofrimento, mas é uma dor necessária, importante e útil, uma dor de crescimento. A dor do processo que permite a cura.
1 – Pertencimento
O sentimento de pertença é um dos princípios fundamentais em trabalhar com as Constelações Familiares. Todos os membros de uma família têm o mesmo direito de pertencer a família. É um direito que é adquirido pelo simples fato de ter dois pais, ou melhor ainda, pelo simples fato de ter sido concebido por dois membros pertencentes a um sistema. Esta consciência responde a uma categoria de necessidades básicas de acordo com Maslow, a necessidade de pertencer, que serve para dar segurança e proteção, confiança e serenidade em relação ao meio ambiente e às pessoas próximas.
A Lei do Pertencimento diz: “todos os membros de um sistema familiar têm o direito de fazer parte do sistema familiar e conseqüentemente ninguém pode ser excluído por qualquer motivo“.
O que muitas vezes acontece é que alguns membros são esquecidos, excluídos, por exemplo, porque estão gravemente doentes ou morrem muito jovens ou em circunstâncias particularmente dolorosas (por exemplo, mortos ou dispersos em guerra). Alguns são abandonados para adoção e, ao fazê-lo, perdem a chance de se sentir parte de sua família de origem. Outras pessoas podem ter sido excluídas e esquecidas pela família e as razões podem ser diferentes: exclusão social, encarceramento, homossexualidade, emigração, razões religiosas e sociais. As pessoas excluídas devem ser reintegradas na família e, se isso não acontecer, os sucessores terão que pagar o preço da exclusão, revivendo o destino dos antepassados excluídos.
Para restaurar a paz no sistema, basta coletar informações sobre a sua família, reconhecer o elemento excluído, indagar sobre seu nome, data de nascimento e morte, sua vida, onde ele está enterrado. No caso dos antepassados que morreram em guerra, ou dispersos e esquecidos, é muito importante reconhecer e honrar o sacrifício que fizeram: na verdade, aqueles que participaram de guerras fizeram isso como heróis para defender os seus próprios familiares e a pátria e não é aceitável para o sistema que esta informação seja esquecida ou subestimada.
2 – A Hierarquia Familiar
No sistema familiar há amor para todos os seus membros, incluindo os esquecidos e os excluídos, mas de acordo com Hellinger: O amor é uma parte da ordem e a ordem precede o amor e o amor só pode se desenvolver de acordo com a ordem. Um depende do outro. Se eu inverto esse relacionamento e quero transformar a ordem pelo amor, estou destinado a errar. O amor é subordinado a uma ordem, e então pode crescer. Assim como a semente é subordinada ao solo e aí cresce e floresce. Muitos problemas surgem porque há aqueles que pensam que se poderia superar a ordem por meio de decisões internas ou esforços de amor. Mas a ordem está acima e não se permite substituir pelo amor. Pensando assim é ilusão e devemos retomar a ordem, até o ponto de encontrar a verdade. Só ali existe a solução.
Dentro do sistema familiar, existe, portanto, uma ordem hierárquica, de acordo com a seqüência temporal de pertencimento: quem chegou primeiro dentro do sistema é maior que quem chegou mais tarde e, portanto, tem precedência, tem mais direito de que vem depois. Os pais são mais velhos do que seus filhos e têm precedência sobre eles, o irmão mais velho precede os irmãos mais novos, assim como o relacionamento do casal prevalece sobre a maternidade ou a paternidade. É essencial para um bom funcionamento do sistema que a ordem seja respeitada, porque quem vem depois (como as crianças, por exemplo) não é capaz de suportar o peso da dor e a responsabilidade de quem vem em primeiro lugar e é maior.
Quando alguém rompe a ordem dentro da família, é possível que, em um nível superficial, os outros membros do sistema não deem peso ao assunto, e ao longo do tempo tomam isso como fato ou se esquecem. Mas a informação deste evento não é eliminada dentro do sistema, pois é intrínseca a necessidade de estabelecer ordens válidas para toda a família. A tarefa de restaurar o equilíbrio no sistema e o restabelecimento da ordem dentro da família ficarão ao encargo de um membro da próxima geração.
No momento em que uma criança assume a dor de seu pai ou mãe, ele se torna maior do que eles, ocupando um lugar em um nível hierárquico do sistema que não pertence a ele. O princípio da ordem serve fundamentalmente para estabelecer um círculo virtuoso de amor e energia: aquele que é pequeno recebe e não deve dar, desde que seja pequeno. Ele só tem que crescer e receber todo o amor que ele pode, para poder dar, uma vez excelente, sem pedir nada em troca. Para substituir essa ordem, se for subvertida, é necessário que aqueles que são menores reconheçam aqueles que são mais velhos e quem é mais velho seja respeitado por aqueles que são menores, esclarecendo os aspectos fundamentais de quem dá e quem recebe, e daqueles que têm mais experiência e, portanto, conhecem um pouco melhor o que é certo e o que não é. Muitas vezes acontece que aqueles que são mais jovens que julguem os mais velhos, que uma criança pensa que sabe o que é melhor para seus pais, ou os repreendem por como eles se comportaram. Ser pequeno significa aceitar o que se recebe como o recebeu, sabendo que o que foi dado é foi o máximo possível, e é exatamente disso que você precisa. Nossos pais são os melhores pais possíveis para nós, e tudo o que recebemos, para melhor ou pior, nos ajudou a tornar-se o que somos.
3 – A Lei do Equilíbrio
Para que haja equilíbrio dentro de um sistema, esta regra deve ser respeitada: os pais devem “dar com amor”, isto é, sem reivindicar nada em troca, e as crianças devem “receber com gratidão”, isto é, não se queixar ou julgar pelo que têm recebido. Além disso, aqueles que são grandes dão “para o melhor ou para o pior” e aqueles que são pequenos recebem “para melhor ou para pior”. Aqueles que são pequenos devem tomar consciência de que receberam o que precisavam para crescer. Seus genitores são o melhor pai e mãe possível, porque não pode ser o contrário. Tudo o que é recebido é bem-vindo com gratidão, e se é uma fonte de dor, o momento de crescimento que deriva dele também deve ser entendido.
Em um casal os parceiros são “iguais”, como ambos adultos. Neste caso, temos equilíbrio quando a troca é “justa”, ou seja, cada um “dá e recebe” em igual medida, considerando a diversidade e a peculiaridade da pessoa. Tudo o que acontece dentro de um relacionamento é da responsabilidade de ambos os parceiros, 50% cada. De outra forma, se é confrontado com um casal com base numa projeção: se a esposa procura um pai no marido, ou se o marido procura uma mãe na esposa, ele aceita voluntariamente sem dar, não assumir a responsabilidade da própria vida, porque ainda está numa relação de dependência.
Muitas vezes acontece que apenas um dos dois membros do casal se encarrega de toda a responsabilidade de uma escolha, ou viva inteiramente uma dor ou um sofrimento que devem ser compartilhados: em casos de aborto, em particular, um pouco “por razões de tipo biológico, muitas vezes acontece que é a mulher que se sente mais responsável, nutre um maior sentimento de culpa e protege totalmente o sofrimento derivado da situação. Nestes casos, através de uma Constelação da Familiar, você pode ver se o relacionamento está desequilibrado e trazê-lo de volta ao equilíbrio: é correto para todos assumirem sua responsabilidade e sofrimento pela morte de uma criança, pelo fim de um relacionamento, por um erro econômico e assim por diante.