“Dedico este livro a meu pai Albert Hellinger (1895-1967), com uma carta:
Querido papai,
Por muito tempo eu não soube o que me faltava mais intimamente. Por muito tempo, querido papai, você foi expulso de meu coração. Por muito tempo você foi um companheiro de caminho para quem eu não olhava porque fixava meu olhar em algo maior, como me imaginava.
De repente, você voltou a mim, como de muito longe, porque minha mulher Sophie o invocou. Ela viu você, e você me falou por meio dela.
Quando penso o quanto me coloquei muitas vezes acima de você, quanto medo também eu tinha de você porque muitas vezes você me batia e me causava dores, e quão longe eu o expulsei de meu coração e tive de expulsá-lo, porque minha mãe se colocava entre nós; somente agora percebo como fiquei vazio e solitário, e como que separado da vida plena.
Porém, agora você voltou, como que de muito longe, para minha vida, de modo amoroso e com distanciamento, sem interferir em minha vida. Agora começo a entender que foi por você que, dia a dia, nossa sobrevivência era assegurada sem que percebêssemos em nosso íntimo quanto amor você derramava sobre nós, sempre igual, sempre visando o nosso bem-estar e, não obstante, como que excluído de nossos corações. Algumas vezes lhe dissemos como você foi um pai fantástico para nós?
Você foi cercado de solidão e, não obstante, permaneceu solicíto e amoroso a serviço de nossa vida e de nosso futuro. Nós tomávamos isso como algo natural, sem jamais honrar o que isso exigia de você.
Agora me vêm lágrimas, querido papai. Eu me inclino diante de sua grandeza e tomo você em meu coração. Tanto tempo você esteve como que excluído do meu coração. Tão vazio ele estavam sem você.
Também agora você permanece amigavelmente a uma certa distância de mim, sem esperar de mim algo que tire algo de sua grandeza e dignidade. Você permanece o grande como meu pai, e tomo você e tudo que recebi de você, como seu filho querido.
Querido papai,
Seu Toni (assim eu era chamado em casa).”
Bert Hellinger, em “As Igrejas e o Seu Deus”.