A “Pedagogia Sistêmica” originou-se a partir dos trabalhos do filósofo e professor alemão, Bert Hellinger. Sua carreira como missionário católico na África do Sul durante quase 20 anos lecionando em escolas para os zulus, durante o regime do apartheid, colocaram-no em uma perspectiva ímpar para identificar questões de conflito e consciência. Mais tarde seu desenvolvimento pessoal o levou a estudar e praticar uma vasta gama de abordagens psicoterapêuticas, a saber: psicanálise, análise transacional, hipnoterapia Ericsksoniana, terapia primal, Gestalt, esculturas familiares, análise de histórias, etc. Seus trabalhos o levaram a descobrir a natureza da consciência pessoal e das leis inconscientes que ditam o comportamento humano em grupos familiares e sociais, as quais denominou inicialmente “ordens do amor” e mais recentemente “leis naturais dos relacionamentos humanos”. Mais tarde diversos professores e pedagogos iniciaram a aplicação do método na área educacional, sendo a contribuição mais relevante feita inicialmente por Mariane Franke-Gricksh, a qual escreveu um livro denominado “Você é um de nós” (publicado no Brasilpela Editora Atman –www.atmaneditora.com.br) e o grupo do Centro Universitário Doctor Emílio Cárdenas(CUDEC), em Thalnepantla, México. Depois disso a abordagem se difundiu pelos países de fala espanhola, especialmente México e Espanha.
Como aplicar?
Esse é um tema crucial na abordagem. Tratando-se de uma abordagem filosófica em primeiro plano, a Pedagogia Sistêmica não é na verdade uma metodologia em si. Ela mostra como muitas das intervenções desenhadas para solucionar problemas na relação escola-aluno-família falham devido ao desconhecimento das leis inconscientes que governam o grupo familiar. Mostra ainda como é possível, através do conhecimento dessas leis, atuar de forma simples e marcante, atingindo os objetivos propostos. Nesse sentido, a abordagem não exclui nenhuma metodologia já existente e aproveita todas as formações e conhecimentos pregressos do corpo docente e dirigente da escola. Apenas, através do referencial novo propiciado pela abordagem podemos re-enquadrar as intervenções dentro de um referencial mais efetivo.
Um exemplo simples: em muitas situações familiares o pai está excluído. As razões são várias e não vem ao caso aqui discuti-las. Porém, Hellinger descobriu que num nível muito profundo as crianças são totalmente leais aos pais e especialmente quando esses são excluídos, desvalorizados e condenados. Isso significa que se permitimos que esse pai seja olhado também na escola como “mau”, “inapropriado”, “ausente” etc. não teremos nunca um apoio da criança em qualquer intervenção pretendida. Pelo contrário, se respeitamos seu destino e nos colocamos numa posição de neutralidade respeitosa, respeitando “na criança” seu próprio pai, então teremos um bom terreno onde trabalhar nossas intervenções. A aplicação, portanto, consiste em treinar o corpo docente na visão dessas relações e leis inconscientes de forma que todo seu trabalho seja permeado pela visão das relações que perpassam o universo da criança. Assim, em cada momento a professora, orientadora, pedagoga etc, terão em seu campo de visão como intervir sem ferir as leis sistêmicas e assim ter mais chance de sucesso em seu trabalho.
A abordagem pode ser feita em grupos grandes, praticamente sem limite de número, trabalhando com casos de supervisão ou casos pessoais. Isso gera grande alavancagem na capacidade de aprendizagem para os docentes e orientadores.
Prazos
A efetividade da abordagem é decorrente da abertura que as pessoas têm e também de suas necessidades. Normalmente, quanto maior a necessidade, maior a disposição para a mudança. Os prazos também são uma decorrência dessa abertura e necessidade. Como regra geral precisa-se de tempo para que os treinandos possam pôr em prática sua nova percepção, entre cada módulo de treinamento e isso significa pelo menos cerca de um ano de treinamento com programas de 4 módulos de 18 horas.
Resultados
Temos recebido relatos de alunos de nossos Treinamentos Básicos que nos encorajam a seguir estendendo essa abordagem com um foco específico para pessoas que lidam com crianças. Também, existe uma grande experiência acumulada em centros da Espanha e México. Nesse último país, sede do 1º Congresso Internacional de Pedagogia Sistêmica, um centro educacional se sobressai – CUDEC. Não temos números, mas uma prolífica quantidade de relatos em revistas nacionais desses dois países. A experiência nacional é virtualmente ainda muito escassa. Dado o fato de o método ser muito jovem e a difusão ainda não ter atingido o país de forma extensa, temos ao momento alguns cursos esparsos em algumas cidades no Brasil, notadamente no Paraná, Brasília, Minas Gerais e São Paulo. Até o momento não foi feita nenhuma grande investida de envergadura para levar o trabalho adiante em escala social. Temos recebido relatos de alunos de nossos Treinamentos Básicos que nos encorajaram a seguir estendendo essa abordagem com um foco específico para pessoas que lidam com crianças. E também, a posição de liderança do IBHBC, no tocante à difusão dessa abordagem no Brasil, nos levou a propor algumas iniciativas desde 2006, que culminaram com a formalização do primeiro curso de treinamento em 2014.
Décio Fábio de Oliveira Júnior