Situações não-resolvidas do passado expressam-se em relacionamentos posteriores sob a forma de ações impulsivas e deslocadas ou de sentimentos exagerados. A identificação com outra pessoa gera impressões como “parece que não sou eu” ou “alguma coisa tomou conta de mim”. Sempre que uma pessoa exibe emoções inusitadamente fortes ou comportamentos incompreensíveis, nos termos da situação atual, podemos suspeitar da existência de alguma complicação sistêmica. Isso também é verdadeiro quando a pessoa tem dificuldades inexplicáveis para conversar com outra ou reage de maneira incompreensível – como se estivesse sob o jugo de conflitos e ansiedades invisíveis. Pessoas que teimam sempre em ter razão costumam estar com emaranhamentos. Quanto ‘brigam’ com veemência e mordacidade excessivas, talvez estejam representando algum outro membro do sistema. Havendo um bode expiatório na família atual, usualmente houve outro na geração anterior e convém observar isso com cuidado. Qualquer reação ou emoção exagerada, deslocada ou ampliada pode denunciar uma identificação.
A cura do emaranhamento (identificação)
Um aspecto importante na solução de emaranhamentos é descobrir quem está faltando na família, quem foi dela excluído e, em seguida, conscientizar essa pessoa para que a união familiar se complete. Em regra, o excluído é aquele que sofreu ou foi vítima de alguma injustiça. Aos olhos dos outros membros, era quase sempre considerado mau, tendo sido alijado do sistema familiar porque isso parecia moralmente justo e correto. Em tais casos, os que permanecem sentem-se superiores do ponto de vista moral. A dinâmica nuclear é que alguém, no sistema, recorre a um pretexto moral para reivindicar um privilégio sistemicamente injustificado, ou seja: ‘Eu tenho mais direito de pertencer que você’.
A pressão do grupo para restaurar todos os seus membros e preservar a integridade exige que uma pessoa mais nova represente a excluída. A integridade do grupo frequentemente é mantida por identificação – um jovem, sem ter consciência disso, assume os papéis, as funções e até os sentimentos de um membro mais velho excluído.
A identificação pode ser resolvida se a pessoa mais jovem, que estiver repetindo o destino de uma pessoa mais velha, compreender o problema. Ela então enfrentará o excluído ou ficará ao seu lado, dando-lhe afetuosamente um lugar em seu coração. O afeto cria um relacionamento, e a pessoa alijada torna-se um amigo, um anjo da guarda, um amparo. Afinal, a identificação é o contrário do relacionamento. Quando me identifico com alguém, ajo e sinto como ele, mas não posso amá-lo porque não o considero como uma outra pessoa. Eu só posso amar quem está separado de mim. Se amo uma pessoa separada de mim, meu amor dissolve toda identificação que eu possa ter arquitetado. A pessoa identificada pode então voltar ao seu devido lugar na família, restabelecendo-se dessa forma o equilíbrio do sistema.
Bert Hellinger – A Simetria Oculta do Amor