A questão do aborto é sempre controversa. As posições vão desde “o útero é meu e eu decido” ou “o aborto é assassinato”. Muitas mulheres pensam que com o aborto da criança, o problema foi resolvido. Mas quando trabalhamos a família sistemicamente, observamos no entanto, uma outra realidade. Quando damos pela primeira vez a oportunidade ao bebê de ser representado na família da qual foi excluído totalmente, o bebê abortado nos faz ver a situação de uma perspectiva diferente. Olhamos a dor do bebê e o desequilíbrio do sistema familiar.
Quando um casal de namorados faz um aborto, a relação do casal terminou. Mesmo que eles se casem, não existe mais a força que os mantenha juntos, unidos como casal. As consequências de um aborto são sempre particularmente fortes, tanto para as mulheres quanto para os homens. De acordo com Bert Hellinger, o primeiro efeito é que o relacionamento do casal é fadado ao fracasso. Com o aborto o casal “rejeita” a criança, mas também o parceiro. A interrupção da gravidez é percebida pela nossa consciência interna como um delito ou um crime. Mesmo influenciados por argumentos e justificativas, nossa alma permanece independente – violamos a lei do pertencimento. Percebemos que, mesmo os melhores argumentos não servem se não forem aceitos pela alma. Se o aborto foi imposto por um dos parceiros, a culpa será atribuída a ele e será difícil conviver com um peso tão grande. É bom que todos assumam sua parcela de responsabilidade na morte de um bebê. Um outro aspecto a ser observado é que os parceiros são punidos e as mulheres geralmente desenvolvem uma doença, mesmo que a sua consciência possa ser totalmente a favor do aborto.
Um bebê abortado é parte do sistema e vai pertencer àquela família para sempre. Ninguém pode excluir com a morte e esquecer de um membro da família. A fim de preservar o equilíbrio do sistema e manter sua sobrevivência e a de seus membros, existe uma ordem no sistema familiar que é fixa e estruturada, chamada por Bert Hellinger, de “Ordens do Amor e da Vida”. A estrutura familiar arcaica é tão poderosa que dirige os destinos das pessoas e influencia de forma decisiva a vida de todos os componentes. No sistema familiar aplica-se um sentido de ordem e equilíbrio, a consciência do clã, portanto, qualquer mal feito a um predecessor deve ser compensado por um sucessor. Esta consciência se encarrega dos excluídos e esquecidos por nossas almas e não vai desistir até que seja restaurada a dignidade ao excluído, dando um lugar a ele em nossos corações.
O direito igual de pertencer
A primeira e fundamental forma de amor, diz: “Todos aqueles que pertencem à família têm o mesmo direito de pertencer.” Assim se um membro da família é excluído ou desprezado provoca desordem e seus membros terão que conviver com as respectivas conseqüências. Enquanto uma pessoa é “excluída ou esquecida, o sistema atua como uma pressão a um sucessor, para que de alguma forma ele defenda os direitos identificados com ele, e, por vezes, imitando o seu destino. Quaisquer que sejam as justificativas que sempre são dadas a este ato, a alma do assassino, e aqui, especialmente na mãe terá consequências de longo alcance. Mas estas consequências também atingirão a alma dos outros membros da família. Outra forma de exclusão é quando uma criança é voluntariamente doada ou adotada ou quando uma criança nascida de um outro relacionamento é escondida e, portanto, excluída. Isto aplica-se, da mesma forma, para os bebês abortados em segredo, as crianças esquecidas, as crianças que nasceram mortas ou morreram prematuramente, mas também para abortos espontâneos e mortes de crianças já no ventre de mãe.
As consequências da exclusão
Na família, onde existe “a exclusão de um membro da família, há um movimento que pretende ir e recuperar o componente excluído ou esquecido de lhe dar o lugar devido. Até isso acontecer, o excluído é representado por outro membro da família. Este membro se sente excluído. Ele toma sobre si os sentimentos e sintomas do componente excluído e, eventualmente, o seu destino. Na constelação familiar, isso é chamado enredamento. O enredado é escolhido para esta tarefa por forças sistêmicas além de nossas concepções de culpa e inocência. O emaranhamento tem como objetivo restaurar a ordem, reunir o que está separado e unindo todos do sistema. Mas a mãe também sofre graves consequências do seu ato, com depressão e tentativas de suicídio.
A solução
As consequências de um aborto persistem por toda a vida, pois fetos abortados fazem parte do sistema. Reconhecer a criança como parte de seu sistema e dar-lhe um lugar em seu coração é uma boa solução para a alma. Ao aceitar a culpa e responsabilidade a dor vai desaparecer pouco a pouco. Mas essa vivência deve ser vivida no campo, com a força da mãe e do pai que geraram a vida e do bebê que a perdeu. A dor deve ser chorada e a conexão perdida restabelecida para que os irmãos nascidos não mais carreguem a dor do morto. Dessa forma, muitos irmãos que desenvolveram psicoses se sentirão aliviados. Nada escapa ao campo sistêmico a dor e o amor vivenciados profundamente pelos envolvidos libertará o irmão doente e até mesmo com tendencias homicidas.