A falta de interesse na questão da herança arcaica da psicanálise tem sido notável, porque, por um lado, a ciência biológica não aceitou a ideia de que as características adquiridas foram herdadas e transmitidas e, por outro lado, em algumas áreas os psicanalistas desdenham este tema e, consequentemente, os escritos têm sido relegados ao Totem e tabu e Moisés e o monoteísmo de Freud. Da extensa obra de Freud, compilamos algumas das passagens mais significativas em que ele demonstra seu interesse pela herança arcaica e a transmissão da vida psíquica: “Além do Princípio do Prazer, Totem e Tabu, Moralidade sexual cultural, nervosismo moderno e Moisés e o Monoteísmo”. Nestas publicações, Freud observa a hipótese da existência de uma herança arcaica composta por traços de memória inconscientes de impressões exteriores e sua transmissão. Por exemplo, em Além do Princípio do Prazer (1921) argumenta que aquele antepassado não representado e irrepresentável no sistema poderia produzir uma compulsão que iria empurrá-lo a repetir um defeito ou a formação de um sintoma. Em outras palavras, o que a pessoa não lembra é aquilo que a movimenta. Para introduzir a noção de transmissão hereditária, na “Moral sexual cultural” e nervosismo moderno (1908), ele identifica o fenômeno os protótipos das relações e repetição herdada de geração em geração.
Em Moisés e o monoteísmo (1939) aponta repetidamente que a herança arcaica de fragmentos de vida psíquica do homem é transmitida de geração em geração, e constitui a bagagem inconsciente. Freud também fornece argumentos que reafirmam a existência de um patrimônio formado por traços de memória de experiências ancestrais. Por exemplo, referindo-se a uma antiga tradição de um povo ou a formação de natureza étnica, quase sempre se refere a uma tradição herdada semelhante, e não apenas uma comunicação transmitida. Este texto também desenvolve a consciência de culpa decorrente de um ato particular e persistiu por vários milênios e mantendo todo o seu poder nas gerações que nada poderiam saber sobre o ocorrido. Em alguns desses textos Freud defende a existência de certas predisposições que não foram percebidas anteriormente, até possuírem um significado na genealogia. E é exatamente essa genealogia, ou seja, a necessidade de existir e transmitir essas predisposições que explicam uma teoria de evolução confiável.
Pilar del Rey, Eva Rodriguez, Ana e Nuria Sancer Tayo