Todos temos uma estória. Uma estória de família da qual somos um dos elos, cheia de personagens que conhecemos – pai, mãe, avós, irmãs ou irmãos – e de outros, sobre os quais não sabemos muita coisa (ou nada), mas cujos vestígios subsistem em nós, por meio dos segredos, dos não-ditos, das alusões transmitidos por nossos pais. Esse mosaico familiar exerce sobre nós uma influência, quer tenhamos consciência dela ou não, que se encontra amiúde na fonte de repetições obstinadas que constatamos sem compreender.
Por que escolher um homem que nos faz sofrer, tal como nossa mãe escolheu um marido que a fez sofrer, assim como sua própria mãe padeceu extremamente por causa do esposo? Por que sucumbir à mesma doença de nosso pai na mesma idade em que ele adoeceu? A Psicogenealogia ajuda-nos a trabalhar com essas tomadas de consciência necessárias e libertadoras, a perceber melhor com quem nos identificamos, que papel familiar endossamos sem ter a intenção de fazê-lo e, às vezes contrariados e forçados. Explorar esse labirinto, graças a essa psicoterapia original, permite-nos compreender o que nos determina, nos influencia e constitui o tecido de nossa vida: esboços de cenários genealógicos afetivos, sexuais, intelectuais, profissionais. Encontramos as mesmas encruzilhadas, revivemos certos acontecimentos semelhantes em idades idênticas, reproduzimos situações equivalentes, formamos pares similares.Trata-se no decorrer dessa psicoterapia, de aprender a usar bem a própria história familiar.
Transformamos a herança psicológica que foi para nós fonte de sofrimento, que nos valeu feridas narcísicas, humilhações, sentimentos de vergonha e repetições dos mesmos esquemas, dos mesmos erros que envenenam nossa própria vida e podem envenenar a de nossos descendentes. Se chegamos a reconstituir o quebra-cabeça que se formou em nós, desmascaramos essas armadilhas familiares e conseguimos, dessa maneira, pôr um termo naquilo que alguns vivem como uma maldição infernal.
Chantal Rialland