O aprendizado de meninas e meninos acerca de seus papéis é um fator de risco importante para a violência. A tendência natural de uma criança é responder às situações vividas de acordo com seus modelos. Assim, se possuírem um modelo de interação violenta irão aprender também a serem violentas. Uma vez internalizados, estes aprendizados são incorporados na escala de valores do indivíduo determinando sua forma de enfrentar as expectativas sociais, sendo isto específico para cada sexo. Nas famílias com histórico de violência existem ideias que são sustentadas através do discurso do abusador, da pessoa que sofre a violência e das pessoas de fora da família que convivem com a mesma. Ideias que não são questionadas, o que faz com que tenham um forte impacto no sistema familiar como um todo.
Na violência familiar produzem-se circuitos de repetição de padrões de interação nos quais participam pelo menos três diferentes instâncias: o abusador, a pessoa abusada e o contexto reforçador. Cada uma destas instâncias possui uma lógica de pensar e agir que muitas vezes contribui para a negação dos atos violentos na família. Para o abusador, os componentes mais frequentes desta lógica são: sente-se vítima de algo que seu companheiro faz, não é empático com os outros membros da família, supõe que são os outros, principalmente a pessoa abusada que deve se conter; acha que se encontra em uma posição hierárquica superior, etc.
Coerentemente a estas ideias age gritando, humilhando, não agradecendo, batendo, etc., não percebendo sua conduta como violenta. Consequentemente, a violência passa a ser vista como natural neste ambiente. Já para a pessoa abusada, os componentes que estabelecem uma lógica para a violência, impedindo-a de percebê-la são outros: não se vê como importante nas suas relações, tem baixa autoestima, desconhece seus direitos, acredita que o abusador é dono do saber, etc. A partir desta lógica conduz-se de forma a sustentar, apoiar e cuidar do abusador. Estudo recente revelou que mulheres violentadas possuem uma baixa percepção da violência, não reconhecendo os sofrimentos vividos como atos violentos. É este funcionamento complementar entre abusador e abusado que sustenta a violência intrafamiliar, permitindo que esta situação se repita. Como consequência, os filhos vivem e aprendem que a violência faz parte de uma rotina aceitável, levando-os a repetir este mesmo padrão quando adultos em suas próprias famílias.
ANA BEATRIZ PEDRIALI GUIMARÃES – SILVIA BRASILIANO – Patrícia Brunfentrinker Hochgraf